Tuesday, May 30, 2006

Ao Pacheco Pereira que não me lê

Sr. Dr. Pacheco Pereira, esta carta é para si, apesar de não a ler.

Li o seu artigo na Visão, mais uma vez o Sr. não resiste em tentar arrasar e desprezar o fenómeno do futebol.

Porquê insistir nisso Pacheco? (desculpe a intimidade, mas dado que não vai ler também pouco importa se o trato por doutor ou por Pacheco)

O futebol é um fenómeno que só a inveja pode odiar. É por culpa do futebol que as pessoas não vão ao teatro? é por culpa do futebol que os museus estão às moscas? É por culpa do futebol que o PIB não arranca?

Mas que raio de perseguição? Que raio de inimigo que o Pacheco tinha de escolher. Um inimigo cujo único crime é conseguir unir o povo português, dar-lhe uma bandeira e faze-lo sorrir.

Dizia o senhor no seu artigo "Vai embora futebolândia, vai para longe e deixa-nos em paz"... sim, deixa-nos em paz com as suas (Pacheco) dissertações retóricas imobilizadoras. Ou está a ver o país a juntar-se às 4ªs feiras nas casas de uns e de outros para assistir à quadratura do circulo e vibrar a cada comentário. O senhor nem sequer é um jogador da politica, o senhor é o Fernando Seara da politica, o Gabriel Alves, é daqueles que poucas vezes calçaram as chuteiras à séria. Aqueles que fazem programas chamados "o dia seguinte" ou o "o jogo falado" pois no "próprio dia" estavam na praia e o "jogo jogado" dá muito trabalho.

Esse seu ódio ao futebol explica muito do seu fracasso como politico. Sei que agora se intitula de politólogo, como não sei bem do que se trata presumo que seja um género de refugo de politicos que preferem ver fazer a ter de suar a camisola (repare mais uma vez na introdução subtil de um expressão típica do futebolês).

Mas o facto de ter sido sempre um politico fraquinho está relacionado com isto, o senhor não entende o povo. A politica é a pólis, a cidade, a comunidade, o bem comum. Para exercer a politica é preciso entender o bem comum e entender a comunidade. Alguém que despreza o que 90% dos portugueses adora está para a politica como um gafanhoto está para o fundo do mar.

Eu entendo que haja pessoas que detestam futebol, sou admirador de alguns, o Nuno Markl por exemplo, esse nem sequer sabe o que é um fora de jogo. O Eusébio para ele é o nome de um restaurante. Mas o Nuno Markl é um comediante, não é alguém com a ambição de perceber o que é o povo português e zelar a tempo inteiro pelo seu bem estar colectivo.

Resumo esta carta em dois pedidos sinceros. Não odeie o futebol só porque o Figo tem mais audiências que o senhor e nem sequer completou o 12º ano. Deteste o jogo, não veja os jogos, diga que não gosta, mas saiba apreciar o fenómeno, não o odeie.

Segundo, mude de profissão. Adeus Pachecolândia, vá escrever livros para a Sibéria e deixe-nos em paz pois às 4ªs feiras é dia de Liga dos Campeões.

Sr. Pacheco (em vez de apenas Pacheco, a intenção aqui é dar um tom mais sério ao que vem a seguir), deixe-me tentar explicar-lhe um pouco do que é isto do futebol, mas não me alongarei pois sei que está com pressa.

O futebol é emoção, as pessoas trabalham, por muito estranho que lhe possa parecer a malta que grita na rua por portugal, que pendura as bandeiras etc, essa malta tambem trabalha, não passa a vida naquilo do "portugal olé".. não, eles trabalham! Aquilo é emoção e entrega digamos que de "tempos livres", está a ver? em vez da malta ir para Paris ver uns concertos, ou pagar 50 euros para ir a um concerto no CCB, ou 30 para ir ao Teatro Aberto, ou pegar na familia e dar um saltinho a Londres, a malta põe uma bandeira na janela, junta-se com amigos e familiares, vibra por portugal, grita, apoia, emociona-se, abraçam os vizinhos, abraçam desconhecidos e, cumulo dos cumulos, não pagam nada por cada lágrima nem por cada risada de euforia colectiva, é tudo à borla, é emoção pura, VIVER, viver à nossa maneira, da maneira que aprendemos e que podemos. Isso não se critica, e muito menos se odeia!

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