Friday, May 26, 2006

Muitos sentimentos

Já regressei de Maputo. Desta vez a resposta oficial é "correu mais ou menos".

Na realidade os sentimentos principais foram desilusão, angústia e saudade. Não sei qual delas contribuiu mais para este sabor acre que trago de Moçambique.

Desiludiu-me a deslealdade de pessoas em quem confiava. Desiludiu-me a forma como tudo vale quando se trata de fazer mais uns trocos. Que tipo de valores continuamos nós, estrangeiros, a deixar lá? Que exemplo damos de como se fazem negócios, como se lida com parceiros, como se respeitam os clientes?

Questionei se então seria a lei da selva. A resposta foi surpreendentemente frontal pela primeira vez e crua: Sim, é isso, é a lei da selva!

Diz o Tiago que alguém disse "Deita o passado para trás ma primeiro tira a faca das costas". É isso que temos de fazer, primeiro temos de tirar a faca das costas e, se tudo correr bem, mais cedo ou mais tarde o passado estará para trás.

Depois a saudade. Tantas e a níveis que não sabiam que existiam. Quando me perguntam como é ser pai digo normalmente que é igual como não ser pai só que amamos uma pessoa a mais. É nestas coisas que se nota a diferença.

A cidade continua caótica e contrastante. Hoje, mais do que ontem, isso custa-me. Dizia ontem o Rui "mas isso já era assim antes", pois era, mas é o factod e não melhorar que me apavora. A economia cresce 10% ao ano e em 7 anos o salario dos empregados de casa continuam iguais ou menores.

O empregado da casa de um amigo meu recebe menos de 30 euros por mês. Cada vez que vai ao talfo o meu amigo dá-lhe o valor equivalente ao seu salário para comprar carne que vai durar 2 ou 3 refeicoes dos patrões.

Uma refeição de 3 pessoas num restaurante simples da cidade gera uma conta equivalente ao ordenado mensal do empregado de mesa. Um empregado de mesa que atende todos os dias ao almoço o mesmo grupo de pessoas sabe que eles gastam o equivalente ao seu ordenado mensal todos os dias só numa refeição.

Enfim, é este o contraste, mas mais do que existir preocupa-me o facto de ele se manter há pelo menos 7 anos apesar do crecimento económico.

O investimento em Moçambique está a criar aos poucos uma classe média, mas ainda muito muito minoritária.

O resto foi bom, o Tiago continua a ser uma excelente companhia, a comida é surpreendente, a cidade continua com um encanto único, as pessoas são puramente boas e sorridentes e continua a ser muito bom visitar os nossos velhos amigos que lá vivem, foi só pena a Ana Rita não ter podido cozinhar :-)... por isso, resultado final e resposta oficial: Foi mais ou menos!

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