Wednesday, May 10, 2006

O segredo

Fui a casa de um amigo e lá vi em cima da mesa o best seller "O líder no século XXI" ao lado do "A inteligencia emocional num contexto de incerteza, versão ilustrada e enriquecida com casos reais de pessoas que por acaso até já tinham tido azares mas depois perceberam o que era o QE e começaram a ter mais sorte e um deles até chegou a administrador do condominio"

Bom, ironia à parte. A minha urticária incontida e por vezes irracional em relação aos gurus às grandes teorias da gestão de pessoas normalmente formalizadas por gurus cuja única equipa que tiveram de gerir foi a equipa de relações públicas da sua editora, vem, acima de tudo, do meu desejo de descobrir o verdadeiro segredo de gerir equipas para o sucesso. Obter o máximo rendimento de cada pessoa e ultrapassar todos os limites. Depois, obviamente, escreveria um livro sobre isso, chamava-lhe 7 qualquer coisa, ou 5, e nunca mais teria de pensar nisso, não precisaria de saber se funciona ou se é uma catástrofe, para quê pensar nisso se já vendi 1 milhão de exemplares? Obviamente que funciona, pelo menos para mim!!!

O que é certo é que ontem deparei-me com aquela que pode ser a fonte desta teoria futura. Até cheguei a pensar se a poderia escrever aqui, mas como já não escrevo aqui há algum tempo presumo que as visitas andem mais ou menos nas duas por dia. Logo, o risco de ser vitima de plágio e antecipação será mínimo.

A ideia mágica é esta: "O que fazemos à borla fazemos sempre melhor e com mais entusiasmo"

Ora bem, posso prova-lo sim senhor. Já lá vamos. Mas a questão que se coloca numa primeira fase, e atenção que isto já deve dar um capitulo de umas 30 ou 40 páginas, é a dissecação desta frase para que estejamos alinhados.

Capitulo 1:

Dissecação da frase "O que fazemos à borla fazemos sempre melhor e com mais entusiasmo"

Capitulo 2:

Casos reais.

- Organizar a despedida de solteiro de um amigo. Qualquer padrinho amador na organização de eventos se transforma perante o desafio que lhe é colocado de organizar um evento de cariz socio-intelectual tão elevado.

- Organizar a festa de aniversario surpresa da mulher. Se calhar estou a ser muito romantico, mas pronto, eu sou assim!

- Organizar as ferias com o filho. Ou outras férias quaisquer. Em cada português há um profissional de organização de férias próprias, sem necessidade de formação profissional, somos autenticos auto-didactas. Conhecemos todos os sites de turismo, os truques, as oportunidades, os last-minutes, tudo...

E muitos outros exemplos, até podemos colocar alguns mais picantes, pois a unica coisa que vende mais do que um guru da gestao é um guru da gestão que fala de sexo.

Capitulo 3:

A antitese. Depois da tese a antitese. Ou seja, temos de colocar os casos reais de situações que fazemos à borla ao lado de situações em que somos pagos para trabalhar.

Por exemplo: Está uma senhora no seu computador, das 10:00 às 11:30 conseguiu visitar 17 sites de internet à procura de casas para alugar no algarve, enviou email a 6 amigos com propostas, fez um orçamento para a semana de férias e até colocou numa folha de excel uma lista de actividades diárias a fazer durante a semana incluindo restaurantes para jantar que foi buscar ao www.lifecooler.com.

Às 11:31 o chefe pede-lhe "Dona Carlota, podia ver-me por favor qual a melhor hipótese de alojamento em Lisboa para o grupo de formandos que vamos ter cá na 5ª feira?"... "Concerteza, mas é para hoje?" diz com ar apreensivo. "Acha que consegue?" diz o chefe quase em suplica... "Vou dar o meu melhor". Chama-se a isto um nó cego!!!

No dia seguinte às 11 horas o chefe tem um email que diz mais ou menos isto "depois de muita pesquisa concluí que o IBIS é capaz de ser o melhor, quer que veja os preços?"

Nó cego, seguido de remate surdo que deixa practicamente mudo quem queria escrever sobre a solução de tudo.

E com as poucas palavras que me restam, ainda confiante de ter descoberto "o segredo" o 4º capitulo diria só o seguinte: "Por isso, por ser à borla que as pessoas trabalham com mais entusiasmo, a solução é baixar os salários até ao seu ponto óptimo que é zero."

Não, isto foi um devaneio. Voltando a falar a sério sobre o tema, temos de perceber o que motiva as pessoas nas situações que são à borla. Se o Prof. César das Neves lesse este blog diria já "Óh Fernando, sabe muito bem que isso não é economicamente à borla, as pessoas têm uma remuneração quando organizam umas férias ou uma despedida de solteiro"

Pois têm, mas não é monetária. E nas empresas só pensamos nas retribuições monetárias, quando existem outras que dão resultados muito superiores. E é sobre isto que versará o 4º, o 5º e também o 6º capitulos. "Remunerações não monetárias nas empresas, a chave para o sucesso no século XXI e inicio do século XXII até mais ou menos ao ano 2130."

O 7º capitulo será dedicado a um olhar enigmático sobre as esculturas de pau preto em áfrica e a sua relação com a pluviosidade continental.

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