Monday, February 13, 2006

Desculpem qualquer coisinha

Esta expressão tão nossa, tão humilde.. se o cartonista dinamarquês a tivesse colocado por baixo do desenho do Maomé já não havia problema nenhum.

Sim, porque o "desculpem qualquer coisinha" resolve qualquer possivel ofença e tem a vantagem de desculpar ofenças até involuntárias. No fundo não tem um objecto definido, é um "desculpa lá por ter dito ou pensado, ou até escrito nas entrelinhas deste texto, qualquer coisa que te ofendeu ou, mesmo que não esteja escrito, qualquer coisa que tu tenhas eventualmente interpretado e que apesar de eu não a ter querido dizer te ofendeu e por isso ou por qualquer outra coisa: Desculpa"

Tudo é permitido se seguido de um "desculpa qualquer coisinha". Onde estava o "desculpa qualquer coisinha" quando os americanos mandaram as bombas atómicas no japão? se calhar estava escrito nas próprias bombas!!

Sinceramente não gosto da expressão. Faz-me lembrar um familiar meu que a usava muito. Lembro-me sempre dele, e do ridiculo da situação. À hora da despedida lá era sempre lançado um "desculpem qualquer coisinha"... e eu que pensava que até tinhamos estado em familia, a conviver, a conversar, a trocar opiniões em salutar discussão... aquele "desculpem qualquer coisinha" era nublado, era desconcertante. Ficava sem saber a que é que ele se referia, a pensar "será que ele fez xixi no chão da casa de banho e já está a pedir desculpa para quando nós descobrirmos?" ou "será que roubou o pote da vista alegre?"

Nem as palavras nem os actos voltam para trás, por isso ou achamos que podem ser ditas e assumimos, ou as dizemos sem querer. Se as dissemos sem querer pedimos desculpa e nesse caso não voltariamos a dizer. Mas se as voltariamos a dizer porquê pedir desculpa?

Acho que não há meio termo... e não desculpem qualquer coisinha, discordem, mas não desculpem o facto desta ser (neste momento) a minha opinião.

2 Comments:

Blogger M said...

Se as voltariamos a dizer porque pedir desculpa? Porque a questão pode não estar no conteudo e sim na forma.

No caso das caricaturas: o conteudo é a de que o fundamentalismo islamico é terreno fertil para as explosões e actos terroristas :);

A forma escolhida foi usar um icone sagrado desses fundamentalistas para expressar essa opinião.

O que ofendeu foi a forma não o conteudo.

Somos obviamente livres de escolher a forma e o conteudo. É tambem nessa liberdade
que podemos pedir desculpas pela forma usada sem deixar de dar a nossa opinião, sem a mudar.

11:17 AM  
Blogger FM said...

Refiro-me a forma e conteudo... se as voltariamos a dizer significa a mesma forma e o mesmo conteudo.

Se mudarmos a forma já não voltariamos a dizer o que dissemos, diriamos algo diferente, mesmo que só na forma.

Neste caso, se o jornal de extrema direita achar que esteve mal na forma deve pedir desculpa, caso contrário não o deve fazer... se fosse leitor de imprensa na dinamarca não compraria esse jornal... essa é a minha liberdade!

Mas muito menos têm de pedir desculpa o povo ou o estado dinamarquês. Se os estados fossem pedir desculpa por cada fundamentalista não sensivel a outras culturas e xenofobo que tem não fazia mais nada na vida.

12:52 PM  

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